L e i t u r a



Novo professor e novo aluno

A EAD via Internet pode ajudar a EAD em geral a superar uma de suas maiores barreiras, a da manutenção da motivação do estudante. Uma das maiores dificuldades da EAD convencional está no chamado "isolamento" do estudante, que não conta com o apoio e o estímulo de um grupo de pessoas que estão nas mesmas condições que ele, aprendendo as mesmas coisas e ajudando-se mutuamente a vencer dificuldades neste aprendizado, em outras palavras, uma "turma". No caso da teleducação isto vem sendo enfrentado através da organização de grupos locais de alunos reunidos em telessalas, mas nem sempre é possível reunir um grupo que se encontre num mesmo lugar na mesma hora - condição sine qua non para o funcionamento de uma telessala. No caso do ensino por correspondência, tenta-se vencer esta dificuldade através do trabalho de auxiliares, os chamados "tutores", que "vão atrás" do aluno quando este passa muito tempo sem dar notícias ou sem cumprir alguma tarefa, mas por mais atencioso que um tutor seja é muito difícil que um apenas consiga manter o estudante motivado por muito tempo. Ora, com a Internet, pode-se organizar os alunos em turmas, tal como no ensino presencial, e isto certamente tem reflexos positivos sobre a motivação do estudante.

Na verdade, assim como a Educação a Distância convencional exigiu o desenvolvimento de uma pedagogia específica, a educação online exige o desenvolvimento de um modelo pedagógico específico. É à construção deste modelo que estamos hoje assistindo. Ainda há muito a se criar, experimentar e corrigir neste campo desafiador de constituição de uma pedagogia online. Mas hoje há razoável consenso em torno do fato de que esta pedagogia deve estar atenta aos seguintes aspectos:

1. Hoje, cada vez mais são exigidos profissionais e cidadãos capazes de trabalhar em grupo, interagindo em equipes reais ou virtuais.
2. Cada vez mais trabalhar e aprender se tornam uma só coisa, e como trabalhar se torna cada vez mais algo que se faz em equipe, aprender trabalhando se faz cada vez mais em grupo.
3. Mais do que o sujeito "autônomo", "autodidata", a sociedade hoje requer um sujeito que saiba contribuir para o aprendizado do grupo de pessoas do qual ele faz parte, quer ensinando, quer mobilizando, respondendo ou perguntando. É a inteligência coletiva do grupo que se deseja pôr em funcionamento, a combinação de competências distribuídas entre seus integrantes, mais do que a genialidade de um só.
4. Dentro deste quadro, aprender a aprender colaborativamente é mais importante do que aprender a aprender sozinho, por conta própria. Co-laborar, mais do que simplesmente laborar.
5. Também dentro deste quadro, os papéis de professor e aluno se modificam profundamente. O aluno deixa de ser visto como mero receptor de informações ou assimilador de conteúdos a serem reproduzidos em testes ou exercícios. O professor deixa de ser um provedor de informações ou um organizador de atividades para a aprendizagem do aluno. Aluno e professor passam a ser companheiros de comunidade de aprendizagem, o professor com uma função de liderança, de "animação" no sentido mais literal da palavra, de despertar a "alma" da comunidade. E nisto é apoiado e acompanhado por seus alunos, que também se animam uns aos outros, procurando todos o crescimento de todos.

Como se vê, são desafios grandes que exigem um grande esforço. Em primeiro lugar, um grande esforço para aprender a ser um aluno online. Isto não é a mesma coisa que ser um aluno convencional e também não se confunde com o aprendizado operacional de novas tecnologias. Ser um aluno online é mais do que aprender a surfar na Internet ou usar o correio eletrônico. É ser capaz de atender às demandas dos novos ambientes online de aprendizagem, é ser capaz de se perceber como parte de uma comunidade virtual de aprendizagem colaborativa e desempenhar o novo papel a ele reservado nesta comunidade.

Em segundo lugar, exige o esforço por parte do professor de tornar-se um professor online. Mais uma vez, aqui também isto não se confunde com o aprendizado operacional de novas tecnologias. Não se trata apenas de ensinar o professor a "mexer com o computador", navegar na web ou usar o e-mail. Assim como aprender a usar o quadro e o giz não faz de ninguém um professor convencional, aprender a usar computador, periféricos e software não faz de ninguém um professor online. Professor online precisa ser antes de mais nada convertido a uma nova pedagogia. Não é apenas mais um novo meio no qual ele tem que aprender a se movimentar, mas é uma nova proposta pedagógica que ele tem que ajudar a criar com sua prática educacional. Assumir o papel de companheiro, liderança, animador comunitário é algo bem diferente do que tem sido sua atividade na educação convencional. Seu grande talento se deverá concentrar não apenas no domínio de um conteúdo ou de técnicas didáticas, mas na capacidade de mobilizar a comunidade de aprendizes em torno da sua própria aprendizagem, de fomentar o debate, manter o clima para a ajuda mútua, incentivar cada um a se tornar responsável pela motivação de todo o grupo.

Este novo aluno e este novo professor ainda não existem. Precisam ser criados e, depois de criados, aperfeiçoados continuamente nesta nova área de prática educativa. Não se faz isto de um dia para o outro.

Trechos de Panoroma atual da Educação a Distância no Brasil
Wilson Azevedo

Veja o texto integral

(Extraído de http://www.tvebrasil.com.br)