L e i t u r a
ENSINO E APRENDIZAGEM NO MUNDO
ALÉM DO ESTRITAMENTE CONCRETO
No paradigma hegemônico da educação presencial ou a distância até alguns poucos anos atrás, sabemos que o ensino era priorizado em relação à aprendizagem.

O sistema educacional colocava desafios que freqüentemente se limitavam ao seguimento de programas de ensino previamente estabelecidos, com pouca possibilidade de interferência criativa e crítica dos alunos e mesmo dos professores. O ensino era de massa, como a produção nas indústrias.

O aluno era padrão, como um hamburger do MacDonalds. A sala de aula era cognitivamente tão desestimulante aos alunos quanto a superfície de Plutão para uma bactéria. O estereótipo de professor nesse paradigma é alguém lá na frente "dando" aula para uma turma de alunos relativamente pouco interessados em qualquer coisa que fosse além dos quesitos de avaliação formal. Nessa educação,
o aluno era mais objeto que sujeito, o professor era mais vítima que autor, o ambiente de aprendizagem mais uma limitação que uma libertação.

Ao professor cabia organizar e distribuir informações e tarefas. Dos alunos esperava-se especialmente disciplina, obediência e passividade. O ritmo e o fluxo de interações, fundamentais aos processos de aprendizagem, eram majoritariamente controlados pelo professor, limitado ainda pelo sinal a cada cinqüenta minutos.

As reações a esse modelo já começaram há algum tempo, mas no entanto ainda são poucas e ainda confusas. Há, ainda, uma enorme distância entre discurso e prática. É pesada a herança do antigo paradigma que paira sob nossas cabeças, um legado que levará gerações para ser ressignificado.

Como sabemos, as demandas de aprendizagem aumentaram e estão mais exigentes. Há muito o que aprender, de modo mais profundo e em menos tempo do que cabe em uma vida comum. Temos que aprender e também que desaprender.

Há muita informação e tantas oportunidades quanto riscos. Temos que ser seletivos em nossas vidas e saber escolher os caminhos que conduzem ao nosso interesse e avaliar as conseqüências dessa escolha. Seria ingênuo esperar que sistemas centralizados de organização e gestão de processos de ensino possam atender a nossas cada vez mais múltiplas, reais e específicas necessidades. É impensável que esses sistemas centralizados possam optar por nós melhor do que nós mesmos, a cada nó de nossos infindáveis trajetos de aprendizagens.

Está em curso o desenvolvimento de conceitos e instrumentos que viabilizam que o sujeito que aprende passe a controlar seu processo de aprendizagem, seguindo caminhos não padronizados, eventualmente únicos, que considerem o background pessoal, contexto de vida, interesse, características cognitivas e de personalidade, além de suas possibilidades objetivas. Esses caminhos de aprendizagem traçados pelo sujeito terão convergências momentâneas com os caminhos de outros aprendizes, momento em que as interações serão necessárias, possíveis e certamente intensas. Está clara a falência dos paradigmas anteriores de ensino, pois eles não atendem às necessidades humanas em nosso novo meio de existência e tampouco aproveitam as possibilidades que se colocam com potencial transformador.

Então, chegamos a uma nova concepção, na qual essas novas necessidades de aprender podem ser atendidas pelo inusitado aparelhamento dos ambientes humanos para esse fim. Será inevitável, assim, que o conceito de escola seja, em breve, significativamente diferente do que é hoje. Em breve, muito breve!

E assim também será com os conceitos de aula, de presença, de desempenho, de professor, de aluno, de turma...

O professor organizador e transmissor está tendo seu papel discutido, e será reconstruído como já são diversos outros profissionais, de médicos a metalúrgicos. O professor passou a ser um tremendo improvisador naquilo que não deveria improvisar e um burocrata naquilo em que precisava criar e criticar.

A educação mecanizada esgotou-se enquanto modelo capaz de atender às necessidades da comunidade humana e já começamos a presenciar o surgimento de novos conceitos.

As tecnologias de informação e comunicação, no entanto, nada podem fazer em relação à qualidade de suas aplicações, e é notável como facilmente são incorporadas de modo a acomodar os velhos paradigmas ao invés de questioná-los. Por isso, é importante perceber que a mudança viabilizada pela tecnologia só será efetivada caso haja gente, muita gente, com capacidade de ousar e inovar, de fundamentar seus passos e socializar os caminhos. Tecnologia não é máquina; tecnologia é saber-fazer, coisa que as máquinas podem até incorporar, mas sem crítica e, certamente, sem inventividade.

O germe das transformações já começa a se multiplicar e a buscar nichos institucionais que sustentem as inovações. Um número cada vez maior de instituições e profissionais de ensino se dedicam a estruturar ambientes onde floresça um novo paradigma de ensino e de aprendizagem. É clara a tendência de utilização das novas tecnologias de informação e comunicação como ampliação dos espaços presenciais de aprendizagem ou, ao menos, como elemento desestabilizador da mesmice. É estimulante perceber a frenética movimentação no sentido de se desenvolver processos de produção de ambientes virtuais de aprendizagem. Nestes espaços que se criam com a ajuda das novas tecnologias, o professor será um membro de uma equipe de profissionais que arquitetam um ambiente ergonômico, intenso, denso e motivador para a aprendizagem. Fará parte de uma equipe que atuará nesse ambiente como especialistas, assessores, consultores e mediadores dos diversos tipos de interações que proporcionam a aprendizagem.

Trechos de "Tecnologias em Educação a Distância"

Fernando Moraes Fonseca Jr.

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(Extraído de http://www.tvebrasil.com.br)