LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2ª. ed. São Paulo, Editora 34, 2000.

Cibercultura é a obra central de Pierre Lévy. Fruto de um relatório encomendado pelo Conselho Europeu, aborda as implicações culturais do desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e comunicação.

Para Lévy, a essência da cibercultura é paradoxal, na medida em que a Internet é uma universalidade desprovida de um significado central, um verdadeiro sistema caótico global, o "universal sem totalidade". Nesse sentido, o autor nos remete à idéia de "segundo dilúvio", originalmente concebida por Roy Ascott, que consiste em um paralelo entre a atual explosão de informações, possível graças ao enorme desenvolvimento das telecomunicações (incluindo a Internet), e o dilúvio bíblico. Perante a Internet, como Noé, nos sentimos à deriva em um mar informacional,
sem saber que informações essenciais deveríamos salvar em nossa arca. No entanto, esse segundo dilúvio nunca cessará, como o primeiro. A arca jamais pousará
no Monte Ararat; não há fundo sólido sob o oceano das informações...

A primeira parte do livro consiste em uma série de definições de conceitos básicos, ferramentas e funções da Internet, tais como interatividade, ciberespaço, correio eletrônico (e-mail), conferência eletrônica, transferência de arquivos, virtualização
de informação, comunidades virtuais, entre outros.

Na segunda parte, o autor aborda as novas formas artísticas da cibercultura (como a ciberarte e a música techno), a nova relação com o saber, as mutações da educação, a economia do saber e a democracia eletrônica possíveis com o advento da Internet.

Sobre a nova relação com o saber, são interessantes os apontamentos que Lévy faz sobre os novos paradigmas da atualidade ¾ competências profissionais que se tornam obsoletas ao longo do tempo, a nova natureza do trabalho que valoriza
a transação dos conhecimentos (aprender, transmitir, produzir), novas formas de acesso à informação e novos estilos de raciocínio e conhecimento. Para ele, tais paradigmas nos mostram a necessidade de duas reformas fundamentais nos sistemas de educação e formação: a utilização da EAD (Educação a Distância) e o reconhecimento das novas formas de aprendizagem através das experiências social
e profissional e não mais somente através das formas tradicionais escolares
e acadêmicas.

Lévy finaliza o livro discutindo os questionamentos e críticas que sua teoria poderia gerar, como a crítica da substituição, que afirma que o virtual suplantará o real,
a manutenção da diversidade das línguas e das culturas e os problemas de exclusão e desigualdade social frente às novas tecnologias.

Ao final, há um interessante glossário de termos técnicos e específicos relacionados à cibercultura, elaborado pelo tradutor da obra, Carlos Irineu da Costa.