"O saber é uma dimensão do ser."
A idéia das Árvores de Conhecimentos, desenvolvida por Pierre Lévy, filósofo, e seu amigo Michel Authier, matemático com formação em sociologia e história das ciências, consiste em um programa de informática criado para que os membros de uma determinada comunidade possam revelar suas qualificações e habilidades e mostrá-las à sociedade.
O livro se divide em três partes: Fábulas, O Sistema e Questões.
Na primeira parte, Fábulas, são propostas histórias hipotéticas nas quais a idéia das Árvores de Conhecimento se realizaria. Em diversos momentos e nas mais variadas localidades do mundo há exemplos de aplicações do programa, com o intuito primordial de uma possibilidade do reencontro da coletividade e de uma solidariedade humana e concreta.
Segundo Pierre Lévy, as Árvores de Conhecimentos são uma hipótese de democracia que se encaixa na atual sociedade, voltada para a informação e a comunicação rápida. Além disso, são um projeto para o futuro, a ser implantado a longo prazo, à medida também que o acesso aos novos meios tecnológicos se torne mais amplo.
As árvores se estruturam a partir de patentes: pequenos emblemas que representam os saberes elementares de cada indivíduo. As patentes são atribuídas às pessoas depois de realizada uma prova, que pode ser um exercício de simulação, de memória, de testemunho, entre outros. Tais saberes não necessariamente são classificados por sua validade acadêmica formal. Esse conceito de patentes, portanto, inclui saberes como saber cozinhar, contar histórias, cuidar de crianças, costurar etc. Desse modo, o indivíduo é valorizado por aquilo que ele sabe, por suas competências, e não por aquilo que ele não sabe (classificação usada na atualidade, altamente excludente).
O conjunto das patentes inseridas na Árvore de Conhecimento forma um brasão, que é uma representação gráfica dos saberes de cada indivíduo, ou seja, a sua identidade cognitiva.
A intenção de tal projeto, segundo Lévy, é tornar visível o espaço dos saberes em uma comunidade e a identidade de cada pessoa nesse espaço. A formação de uma árvore em um determinado grupo possibilita que o coletivo humano, até então existente só no plano ideal (ou virtual), se organize efetivamente em uma comunidade de saber, cuja representação gráfica, por sua vez, é a Árvore de Conhecimento, nascida a partir de princípios de auto-organização, de democracia e de livre troca de saberes entre indivíduos.
A Árvore de Conhecimento criada em uma região pode atender à demanda de empregos das empresas ali estabelecidas, criar um registro de como um grupo de pessoas poderia se organizar em torno de suas habilidades e competências, formando cooperativas de trabalho, por exemplo, ou mesmo mostrar quais saberes deveriam ser mais explorados e quais poderiam ser mais desenvolvidos ou aprofundados.
A obra de Lévy, longe de ser uma saída definitiva para a exclusão social, tão presente em um mundo organizado em "níveis", se apresenta como idéia inovadora e capaz, ao menos, de nos fazer pensar sobre a democratização dos conhecimentos e habilidades de cada indivíduo.