A escola de uma sala só e a educação do futuro


Ao risco de ser considerado excessivamente nostálgico ou até mesmo totalmente louco, acredito ser útil considerar, por um momento, uma situação pedagógica antiga que durante muitos anos apresentou resultados positivos e que hoje em dia poderia ser aproveitada, tendo em vista o fato de que temos à nossa disposição as novas tecnologias de comunicação e as novas formas de aprender e trabalhar.

Refiro-me às escolas de uma sala só que ofereciam educação formal fundamental na área rural de muitos países no século passado , neste século, e até agora oferecem em áreas carentes do Brasil e de outros países. As principais características destas escolas eram:


(1) agrupamento em uma sala única de alunos num leque grande de faixas etárias e séries diferentes, todos estudando as matérias do curso primário;

(2) realização de atividades diferentes simultaneamente pelos alunos, individualmente ou em grupos;

(3) compartilhamento dos mesmos recursos materiais por todos os alunos: livros-texto, mapas, pequena biblioteca. Tenho lido, nos últimos anos, relatos do sucesso didático destas escolas, obrigadas, por circunstâncias geográficas e financeiras, a ter essas características. Além de aprender o conteúdo obrigatório do currículo, os alunos aprendiam a trabalhar verdadeiramente em colaboração, e os mais velhos reforçavam os seus conhecimentos ajudando os menores a atender os conceitos mais complexos. A presença de alunos maiores aumentava o nível de maturidade geral na sala de aula. Todos os alunos tinham de exercer um papel ativo para adquirir conhecimento, deixando o professor no seu papel de gerenciador das atividades de aprendizagem e não no papel de repassador de informação .Hoje, tudo indica que a educação será baseada, principalmente, nos seguintes pilares: (1) será centrada no aluno, cuja aprendizagem na escola consistirá em identificar problemas, achar informação pertinente para solucionar problemas tirar conclusões adequadas e escrever para terceiros, relatórios sobre os achados; (2) exigirá habilidade no trabalho colaborativo, às vezes com pessoas de origem, idade, experiências e pontos de vista diferentes , e localizadas em lugares em lugares distantes: (3) durará a vida inteira, devido ao aumento contínuo de complexidade na execução do trabalho profissional e ao desejo de cada trabalhador de se manter atualizado para não perder seu espaço no mercado.

Acredito que a educação daqui em diante, tanto para jovens quanto para adultos, será realizada em ambientes presenciais ou virtuais que terão muitas características da escola de uma sala só, e que a presença do computador, com acesso à Internet e a seu vasto repositório de informação atualizada e histórica, dará à educação um dinamismo e riqueza inimagináveis. Quem será a primeira pessoa ou qual a instituição a experimentar esta estratégia, que no passado foi um mal necessário e hoje parece ser uma saída vantajosa?

Frederic M. Litto é Coordenador Científico
da Escola do Futuro da USP
e Consultor Acadêmico do Instituto
de Tecnologia ORT de São Paulo
e-mail: frmlitto@usp.br