Durante a reunião anual da SBPC em Natal, Rio Grande do Norte, em julho deste ano, num simpósio sobre prós e contras da realização de cursos de pós-graduação via educação à distância, alguém da platéia questionou como explicar o fato de dois membros da mesa, que eram
a favor da proposta, serem de origem anglo-saxônica, enquanto outro -
o que criticava a proposta - era latino, brasileiro.
Implícito na pergunta estava o estereótipo de os anglo-saxões terem cabeças pragmáticas, do tipo que gosta, acima de tudo,
de identificar problemas e descobrir como solucioná-los o mais rapidamente possível, enquanto os latino primam pela reflexão, gostam de analisar e dissecar problemas exaustivamente a fim de solucioná-los o mais corretamente possível.
Todo estereótipo é ao mesmo tempo útil e perigoso; numa tentativa de delinear traços marcantes acaba freqüentemente exagerando ao sugerir que todos os membros do grupo em questão se comportam da forma descrita. Quando examinamos a questão do grau de sucesso na implantação de tecnologia educacional no Brasil em comparação com
a América do Norte, é inevitável pensar em estereótipos.
A América do Norte está na liderança mundial no aproveitamento bem sucedido de tudo o que a tecnologia moderna oferece, enquanto o Brasil ainda está imobilizado, preferindo refletir sobre possíveis perigos e usos inapropriados. Enquanto uma cultura põe a mão na massa para ver como algo funciona, a outra prefere ficar sentada na poltrona imaginando como são as coisas. Não se trata de ter ou não recursos financeiros, porque o padrão de comportamento de professores em relação à tecnologia começa bem antes, nas faculdades de educação, nas quais eles são preparados para exercerem sua profissão. A situação atual é um estado total de despreparo da comunidade educacional brasileira; não há uma massa crítica de especialistas em tecnologia educacional que saiba realizar a aprendizagem formal dentro de uma sociedade cada vez mais tecnologicamente orientada.
Por outro lado, cada escola norte-americana de educação fundamental e média tem um coordenador tecnológico, um professor ou professora de qualquer matéria do currículo cuja função, além de ministrar aulas de sua matéria, é ser um facilitador para assuntos tecnológicos, ajudando a direção da escola e os demais professores a planejar, executar e avaliar
o uso de tecnologias novas (computadores, Internet, tv a cabo, retroprojetores, educação à distância em geral).
Sua ajuda vai desde questões simples, como cabos e conectores, até
a seleção de uma plataforma principal para as atividades ligadas às tecnologias. É neste professor que a escola investe em primeiro lugar, enviando-o para congressos, treinamentos especiais e reduzindo sua carga horária de aulas. Em troca, ele ou ela se torna multiplicador de conhecimento, a pessoa que reduz a complexidade aparente para termos humanos e compreensíveis.
A existência deste tipo de profissional nas escolas norte-americanas tem facilitado a gradativa e serena adoção da tecnologia no coração
da aprendizagem de cada escola. É minha esperança criar na USP, em 1999 ou 2000, um curso de especialização para a formação de coordenadores técnicos para as escolas brasileiras. Tal curso começará com a importante reflexão do porquê e por quem, mas entrará, logo, no pragmático, onde e como saber se você está fazendo direito. É evidente que o curso deverá ter unidades como aspectos cognitivos da tecnologia educacional, eletricidade, informática, telecomunicações, como planejar/realizar trabalhos em grupo, relações humanas e novas técnicas de avaliação do aproveitamento escolar.
Se o leitor quiser saber mais sobre isto, ou quiser sugerir algo
a mais nesta linda de pensamento, não deixe de me contatar através
do endereço e-mail abaixo.
|
|
Frederic M. Litto é Coordenador Científico
da Escola do Futuro da USP
e Consultor Acadêmico do Instituto
de Tecnologia ORT de São Paulo
e-mail: frmlitto@usp.br |